22 março, 2009

NOVO DISCO DOS U2

Horizontes amplos num álbum discreto
Um dos discos mais aguardados do ano. "No Line on the Horizon", o mais recente álbum dos U2, assinala o regresso da banda irlandesa cinco anos após o antecessor, "How to Dismantle an Atomic Bomb". No seu 12º disco o quarteto pretendeu reinventar-se, mas a sombra (e sonoridade) de alguns registos anteriores continua (demasiado) presente.

Por: Gonçalo Sá

Se é prudente seguir o ditado que diz que não se deve julgar um livro pela capa, no caso de um disco talvez seja ainda mais apropriado. Pelo menos em relação ao mais recente álbum dos U2, “No Line on the Horizon”, cuja capa criada pelo fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto é a mais abstracta e atípica da discografia da banda, e que à partida traduzia a mudança que o quarteto irlandês pretendeu concretizar nas novas canções.

Em várias declarações após a gravação do disco, o grupo revelou que este é um dos seus trabalhos mais arriscados e experimentais, distante do regresso às origens vincado em grande parte do alinhamento dos seus dois antecessores, “All That You Can´t Leave Behind” (2000) e “How to Dismantle an Atomic Bomb” (2005).

Mais do que isso, defendeu-o como o seu melhor álbum, o que é dizer muito quando a banda em causa tem mais de três décadas de carreira e registos marcantes como “The Unforgettable Fire” (1984) ou “Achtung Baby” (1991). A elevar ainda mais as expectativas, a equipa de produção reuniu Brian Eno, Daniel Lanois (agora creditado como Danny) e Steve Lillywhite, uma aliança de peso tendo em conta que os dois primeiros colaboraram precisamente em alguns dos momentos mais memoráveis e ousados dos U2 e agora assumem ainda as funções de co-compositores.

O próprio hiato entre a edição do disco anterior e “No Line on the Horizon” – de cinco anos – é o mais longo de sempre no percurso do quarteto irlandês, e esta demora sugere a preocupação em criar canções que o mantivessem como um nome relevante para a música – já que para o mercado nunca deixou de o ser, como o atestam as vendas invejáveis. A minúcia na preparação do álbum passou ainda pela conturbada escolha de produtores – antes do trio final houve tentativas com Rick Rubin ou mesmo will.i.am, dos Black Eyed Peas, que co-produz um tema – ou pelas sessões de gravação, que passaram por Dublin, Londres, Nova Iorque e Fez (em Marrocos).

UM SINGLE POUCO REPRESENTATIVO

A juntar à surpresa da capa, o primeiro single do disco, “Get on Your Boots”, concentrado de rock acelerado, dançável e electrónico q.b., contrastou com a relativa previsibilidade dos dois discos anteriores, aproximando-se mais de algumas pistas do subvalorizado “Pop” (1997) e combinando-as com guitarras devedoras de uns Queens of the Stone Age. Com um apelo físico e despretensão que os U2 não mostravam desde “Discotèque”, de resto reforçados na letra (“Let me in the sound”, “I don’t want to talk about the wars between the nations”), não entrou directamente na lista de singles obrigatórios do grupo mas foi suficientemente entusiasmante enquanto canção de apresentação.
Mas este primeiro avanço revela-se no mínimo enganador, uma vez que“No Line on the Horizon” tem pouco ou nada a ver com este tipo de sonoridades, estando longe de ser um disco de ruptura como alguns dos que marcaram a música do grupo em finais de 80 e inícios de 90.

Tal como a banda tem vindo a fazer depois de “Pop”, também aqui apresenta novas canções tendo as antigas como ponto de partida... e frequentemente de chegada, pela excessiva familiaridade que se sente ao percorrer o álbum. Enquanto que em “Achtung Baby” ou “Zooropa” (1993) os U2 se inspiraram no passado (David Bowie, por exemplo) ou presente (a música de dança da década de 90) mas com horizontes no futuro, agora apenas olham para trás e apostam na auto-citação.
O que não é necessariamente mau, e se muitos projectos nascidos nos últimos anos – Coldplay, The Killers ou Keane – se apropriam tantas vezes do legado do quarteto, nada mais justo que o próprio regressar ao som que definiu. Mas quando assim é, fica por esclarecer onde está o álbum arriscado de que se falava, já que o que se ouve por aqui são canções quase sempre em registo midtempo, com praticamente todos os elementos típicos da sonoridade U2. Não faltam as letras políticas (a provar que “Get on Your Boots” de facto engana) entrecruzadas com outras de temática amorosa, a melancolia que nunca eclipsa sinais de esperança, a quase omnipresente guitarra de The Edge com direito a solos ou os não menos icónicos “oh oh ohs” de Bono.

DIFERENTE, MAS POUCO

“No Line on the Horizon” difere, ainda assim, da linha dos dois antecessores ao contar com canções mais atmosféricas e plácidas, sem singles tão imediatos e directos como “Vertigo” ou “Elevation”. Os resultados aproximam-se antes dos tons densos de “The Unforgettable Fire” e da carga espacial de “Zooropa”, mesmo que sem a composição equilibrada do primeiro e o arrojo do segundo. Se as texturas desses álbuns conseguiam ser muitas vezes hipnóticas, em “No Line on the Horizon” não vão muito além de uma mediania competente e por vezes interessante, com a produção de Eno e Lanois em piloto automático.

Demasiado sóbrio e etéreo, o disco ressente-se da ausência de canções capazes de injectar cor, rasgo e desafio a um alinhamento de difícil assimilação, que raramente agarra às primeiras audições. Nesse sentido a capa até acaba por ser coerente, não pela surpresa que comporta mas pelo grafismo vago de tons cinzentos, que de facto espelha um disco demasiado sisudo.

A insistência pode revelar-se, contudo, compensadora, e se não dilui a sensação de “No Line on the Horizon” ser um disco desigual, pelo menos permite que alguns momentos se destaquem.
É o caso de “Magnificent”, canção de amor de ambientes épicos e majestosos que Bono canta com um apropriado dramatismo “larger than life”, devidamente acompanhado pela guitarra imponente de The Edge. Séria candidata a mais recente hino da banda, é suficientemente convincente para se desculpar o anacronismo que irradia. Caberia sem dificuldades em “The Unforgettable Fire”, mas surge num álbum irregular e a prova disso é o tema seguinte, “Moment of Surrender”. Indo além de sete longos e arrastados minutos, é dos mais preguiçosos e insípidos do disco, que numa versão editada tem fortes possibilidades de passar nas rádios mais conservadoras ao lado de uma balada desinspirada de Sting e outra de Roger Waters.

PEQUENAS SURPRESAS DA SUBTILEZA

Já os restantes episódios apaziguados do álbum resultam mais envolventes, sobretudo o último tema, “Cedars of Lebanon”, onde Bono encarna um correspondente de guerra no Líbano. Relato em tons lacónicos, torna-se mais comovente do que muitas tentações melódicas grandiosas que vitimam alguns temas do grupo, e não precisa de recorrer a muito mais do que uma voz sussurrante e percussão discreta.
O imaginário das letras, sem armadilhas edificantes ou moralistas, faz o resto (“Spent the night trying to make a deadline/ Squeezing complicated lives into a simple headline”) num belo momento entre o desencanto e a resignação (“Choose your enemies carefully ‘cause they will define you /They’re not there in the beginning but when the story ends/ Gonna last with you longer than your friends”).

Outro dos melhores momentos incide também na temática bélica, e neste caso centra-se num soldado em missão no Afeganistão. Bono sai-se igualmente bem num registo dolente numa das canções mais despojadas, quase sempre alicerçada na guitarra acústica excepto na fugaz e solene intromissão de uma trompa que reforça a aura inquieta das palavras (“As boys we would go hunting in the woods/ Now the wolves are every passing stranger”).

Nos antípodas destes temas, “Stand Up Comedy” é uma das raras ocasiões comparáveis a “Get on Your Boots” – não é por acaso que surge logo a seguir a esta no alinhamento – e dispara numa vertente mais optimista e festiva. Canção rock escorreita mas longe de memorável – o mesmo pode dizer-se de “Unknown Caller” -, é superada pela introdução algo experimental de “FEZ – Being Born” que não tem contraponto no resto da canção, mais próxima dos primeiros álbuns do grupo.

A letra descreve a chegada ao continente africano – o tema foi gravado em Fez, Marrocos – e o recomeço que essa viagem encorajou, ainda que “No Line on the Horizon” nem sempre o confirme, com a sua quota de canções cujo refrão aponta directamente aos grandes estádios (ouça-se a faixa-título e especialmente “Breathe”). Este último objectivo dificilmente sairá comprometido, já a aguardada reinvenção fica adiada por um disco que, mesmo sendo o mais interessante dos U2 desde “Pop”, funciona apenas enquanto eventual registo de transição, um curioso esboço do tal horizonte que a banda poderá vir a atingir.



VIDEOCLIP DE "GET ON YOUR BOOTS"

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