28 janeiro, 2008

PROCURANDO NO PASSADO

APONTAMENTOS SOBRE O SÉCULO VINTE ALGARVIO (9)

Libertário Viegas - in "Região Sul"

Outro acontecimento importante do séc. XX algarvio foi a criação do hoje florescente concelho de S. Brás de Alportel, pelo que se torna interessante, do nosso ponto de vista, referir o acontecimento e os principais políticos que nele intervieram, particularmente João Rosa Beatriz, republicano, maçon, carbonário e empenhado participante nas movimentações que levaram à implantação da República.

Aquele destemido são-brasense foi um grande defensor da criação do ramal ferroviário que, partindo da estação de Loulé, serviria a “vastíssima e populosa região louletana-alportelense” como salienta Estanco Louro (1), que verberou com veemência o “crime monstruoso” que foi a não satisfação do justo anseio das gentes das duas importantes localidades.
A sua intervenção junto de José Mendes Cabeçadas, de Coelho de Carvalho e de outros deputados e senadores algarvios é referida pelo próprio(2) e mostra bem as influências que o político era capaz de mover em defesa da sua terra.
Lembremos que no “ilhéu de industrialização” que, segundo Villaverde Cabral (3), a nossa região constituía na época e a posição de S. Brás de Alportel como centro corticeiro, facto salientado no projecto de lei que, para a criação do concelho, Machado Santos apresentou no Parlamento.
Ali se dizia que a “mais populosa das freguesias rurais do país” era responsável por 50% da produção corticeira nacional (4). A mais populosa e rica das freguesias de Faro (com 11.166 habitantes, cerca de 33% da população do concelho) a localidade contribuía significativamente para as finanças municipais, o que justificava que os farenses contrariassem vivamente a aspiração das suas gentes de S. Brás e reclamassem que queriam ser ressarcidos.
Mas a aspiração que os republicanos agitavam de longa com a criação, em 1906, de uma comissão pró-concelho, em que pontificavam José de Sousa Uva, Virgílio de Passos e Ber-nardo Passos, viria a concretizar-se em 1 de Junho de 1914.
Para além dos citados há que referir mais alguns protagonistas das movimentações próximas da criação do concelho de S. Brás de Alportel.
É um conjunto de homens da segunda geração de republicanos locais - João Rosa Beatriz, Virgílio de Passos e Júlio César Rosalis, elementos do triângulo maçónico fundado em 1911 e de que o Beatriz era o mais activo (pertencia à Maçonaria e à Carbonária, de já era veterano.
Reconhecer o papel notável de J. Rosa Beatriz junto de membros do Governo, parlamentares e personalidades importantes de movimentos da sociedade civil (Magalhães Lima, Luz d’Almeida, João Chagas e Machado Santos), não pode levar-nos a esquecer a acção que ao longo de muitos anos foi desenvolvida por grande número de sambrazenses.
Apesar da forte oposição dos políticos farenses à concretização do velho sonho local muitos republicanos de S.Brás terem integraram órgãos administrativos de Faro - João de Sousa Uva, foi de 1910 a 1913 vereador e presidente da Comissão Municipal, Bernardo Passos, começou em 1910, como administrador do concelho, e depois ficou como secretário da Câmara até 1930, e Júlio Rosalis foi Governador Civil (1911/1912).
Aos farenses, em que predominavam os Democráticos, moveram todas as suas influências para chumbar as pretensões dos políticos sambrazenses, maioritariamente Evolucionistas, mas «não lhes valeu o sagrado». O processo foi longo e difícil mas a tenacidade de João Rosa Beatriz e a dedicação de Machado Santos, incansável no acompanhamento parlamentar do caso, acabaram por levar de vencida os escolhos que lhes semearam no caminho.
Em Dezembro de 1912 Machado Santos, que acompanhou sempre o processo, apresen-tou o projecto de lei à Câmara de Deputados de onde, depois de parecer favorável da Comissão de Administração Pública, subiu ao Senado.
O diploma foi eloquentemente defendido pelo dr. Leão Magno Azedo (que exercera clínica em S. Brás) e apoiado por muitos políticos importantes na época - os algarvios Tomás Cabreira, Coelho de Carvalho e José de Pádua e os não algarvios Germano Lopes Martins, Costa Xavier, Rovisco Garcia, Manuel S. da Câmara, Aníbal Sousa Dias, Ribeiro de Carvalho, Pedro Morais Rosa, Urbano Rodrigues, Francisco Sousa Dias e Daniel José Rodrigues.
Os democráticos farenses contentavam-se com reclamar compensações materiais por se sentirem lesados com a criação do vizinho concelho concretizada Junho de 1914 (Lei nº. 178).Os primeiros responsáveis foram José Martins Sancho (P. da Câmara), Virgílio Rodrigues de Passos (P. da Comissão Executiva) e João Rosa Beatriz (Administrador do Concelho).

(1) - ESTANCO LOURO, Manuel Francisco - O Livro de Alportel, Lisboa, 1929, pp.152-155;
(2) - BEATRIZ, João Rosa - “O Testamento Político de João Rosa Beatriz”, em livro com o mesmo título, da autoria de DUARTE, Maria João Raminhos e de PIRES, Paulo Jorge, Lisboa, Edições Colibri/C.M. de S. Brás de Alportel,2003, p.102;
(3) - VILLAVERDE CABRAL, Manuel - “Portugal na Alvorada do Século XX”, Lisboa, A Regra do Jogo, 1979, p. 284;
(4) - ESTANCO LOURO, Manuel Francisco - “O Livro de Alportel”, Lisboa, 1929, p. 95;

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