03 novembro, 2007

FARO: Ir ao Hospital é um risco

Quem o diz são os próprios médicos, cansados de trabalhar sem condições. Os especialistas alertam para as condições indignas em que os pacientes são tratados, como pessoas de sexos diferentes a serem despidas lado-a-lado.

Mário Lino/Inês Correia - "Observatório do Algarve"
“As condições dos Serviços de Urgência conduzem a um risco efectivo a quem precise destes serviços”, afirmou, esta tarde, o bastonário da Ordem dos Médicos, em Faro.
Em conferência de imprensa, Pedro Nunes explicou que a intervenção da Ordem se justifica devido à demissão de 19 dos 20 chefes de equipa das Urgências do Hospital Central de Faro. O documento foi entregue à Administração do Hospital a 24 de Outubro, mas até hoje, ainda não tinha obtido resposta.
“Existe um problema real no Hospital de Faro, porque a proximidade física destes doentes proporciona contágios e infecções”, acrescentou.
Já Luís Pereira, chefe de Medicina e um dos 19 subscritores da carta de demissão, garantiu ao Observatório do Algarve que “não se trata de questões salariais ou profissionais, mas sim de dignidade humana e as condições em que os nossos doentes são tratados”.
O médico dá um exemplo: “Imaginem que um turista, que vem jogar golfe e tem uma entorse, fica quatro horas à espera de ser atendido na Urgência – o que até é normal, dada a triagem de Manchester. O que ele vê, nessas quatro horas, são instalações quase terceiro-mundistas, desadequadas no tempo e no espaço, pessoas a serem alimentadas e despidas lado-a-lado, mesmo de sexos diferentes”, adianta.
“Como podemos nós médicos e profissionais de saúde, aceitar que os nossos doentes (…) sejam sujeitos a tão degradante situação”, questiona.
A falta de verbas inscritas no Orçamento de Estado para o Hospital Central foi outra das razões apontadas para o descontentamento dos clínicos. “Continuamos a assistir a promessas, mas o mesmo serviço de urgência é levado até aos limites. Está na altura de se decidir se a saúde é ou não uma prioridade”, ressalvou Pedro Nunes, da Ordem dos Médicos.
“O que há é falta de vontade política, porque nós, ao longo dos anos, temos sido ignorados”, acrescenta Luís Pereira.
O pedido de demissão colectiva dos dezanove chefes de equipa (o vigésimo estava de férias) terá agora de ser formalizado, individualmente, dentro de 60 dias.


Interno acusado de homicídio por negligência


Na base deste pedido, estão situações várias, que incluem ainda um problema grave, segundo os médicos: a utilização de médicos internos (em formação) que extrapolam as suas funções e depois se arriscam a responder por algo que não deviam.
O caso de um interno de Medicina Interna, agora acusado pelo Ministério Público pela morte de uma paciente com complicações vasculares, e acusado de homicídio por negligência, é classificado na carta que enviaram à Administração como “uma grande injustiça”.
“As circunstâncias em que somos obrigados a trabalhar no Serviço de Urgência, aceitando responsabilidades por situações que de todo não controlamos. A imputação dessa responsabilidade por todos os doentes observados não é possível de nos ser assacada quando no Serviço de Urgência por vezes se observam 300 pacientes por dia”, refere o documento.
O médico é acusado de não ter pedido um exame de diagnóstico (uma TAC torácica), o que terá contribuído para a morte de uma paciente, em 2006, por ruptura de aneurisma dissecante da aorta.


Obviamente, demito-me


Recorde-se que, devido a obras de reestruturação dos serviços, 4 dos 6 blocos operatórios estão também neste momento desactivados. Os dois existentes deveriam ficar reservados para cirurgia de urgência e cirurgia oncológica, mas tal não aconteceu.
Conforme avançou o Observatório do Algarve, o director do serviço de Oftalmologia recebeu instruções para não efectuar cirurgias, mas foi surpreendido pela chegada de uma equipa contratada (do Hospital de Coimbra) para realizar as cirurgias que lhe tinham sido vedadas.
“Com o bloco operatório em obras, mandaram suspender a minha actividade enquanto cirurgia, e agora querem que outros profissionais venham realizar operações”, confirmou Rui Branco, director demissionário.
Também o director do serviço de Anestesiologia apresentou a demissão, pelas mesmas razões. Segundo fontes do Observatório do Algarve, a administração terá mesmo exercido pressões para travar a cirurgia oncológica e efectuar assim mais operações “em série” de oftalmologia – algo que o médico-cirurgião de oncologia não terá aceitado, invocando a urgência e prioridade dos seus pacientes.


Directora clínica diz que médicos têm razão


“A resposta global só pode ser dada com uma nova unidade hospitalar”, garante Helena Gomes, directora clínica do Hospital Central de Faro. A responsável reconhece as difíceis situações com que os médicos têm de lidar diariamente, e responde com a reestruturação dos serviços de urgência, obras que só deverão estar prontas em 2008, e com equipas prontas só em 2009.
Helena Gomes assume que as condições são, por vezes, críticas, em especial para os mais idosos “sobretudo para os idosos que permanecem no Hospital durante bastante tempo. Como temos um problema de espaço físico, a promiscuidade dos doentes é muito grande e poderá ser um factor de risco para o doente. Não é porque vem à nossa Urgência, é porque vai a um sítio onde há muita gente doente”, refere.
Quanto à demissão dos 19 chefes de equipa, Helena Gomes diz apenas que “oficialmente, nenhum médico pediu demissão”.

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